…Sobre os novos personagens secundários,
lutei um pouco para alinhar com a natureza esotérica da maioria destes, que
simultaneamente teriam de parecer indivíduos normais.
O primeiro foi Inocêncio Perpétuo, figura imortal e mística, concebida como um ser
luminoso (que contrapõe a vampira Leonor Gibrão, na mesma composição) ao qual dei
um fato completo e sugestão do sinal de infinito, numa mascarilha ou laço de
gola. No final, fi-lo sem fato ou mascarilha (esconder-se para quê?) e dei-lhe
um penteado mais carismático. Já com a Leonor
Gibrão, criada por Dinis Conefrey, mantive-a basicamente igual, dando só
maior enfase às orelhas de morcego, algo inspiradas na imagem do Man-Bat, por Kevin Nowlan.
Outro recorrente na saga é Deodato Roble, vulgo “Fado”, criado por Luís Louro. Também não o quis afastar do aspecto original, mas para não haver equívoco com outros personagens, tirei-lhe a ”pêra” e acentuei o aspecto de gasto pela vida no degredo. E estando empacado quanto à figura da Preta do Mexilhão, personagem ficcional da peça de teatro de Roble (“Os Contrafeitos”), adoptei entusiasticamente o esboço feito pela Susana Resende, que decalquei directamente para a ilustração final.
Outra figura etérea do livro chama-se Livre Arbítrio, uma entidade que afecta Jacinto Magno, este, criado por José Carlos Fernandes. Tal como aos restantes, pouco mudei em Jacinto, fazendo-o só mais corpulento, para recuperar a descrição original do autor. Sobre Livre Arbítrio, comecei por o imaginar uma figura invisível, que se figuraria numa labareda acesa dentro de túnica milenar e uma máscara ancestral, assim se podendo incutir neste qualquer intento que se quisesse, sem especificar expressões.
O conceito, porém, foi além do que era
pedido, pelo que, após brainstorming com o autor, refi-lo como múltiplos Djinns,
que tanto podem ser coadjuvantes ou detractores, e dessa forma nunca pondo em
causa o “livre arbítrio” de Jacinto, mas afectando e influenciando-o constantemente.
Com Lúcio Olímpio, o poeta egocêntrico e nefastamente ambicioso (Budha dê paciência para lidar com outros parecidos, que por aí andam…), e dos poucos “humanos” por criar, a concepção foi conseguida logo de início, embora tenha tentado algumas variações posteriormente. Troquei a camisa sem gola por outra com lenço ao pescoço e o quico substituiu a boina, apenas.
Segue-se Elefante Elegante, um ser espectral que, por algum motivo, me instigava associações ao Babar. É de salientar que o nome deste – como me foi explicado – deve-se às alcunhas maliciosas, porém criativas, que as classes culturais tinham costume de dar aos seus pares ou competidores no Portugal do início do século. Aliás, uma prática que perdura, fora talvez o menor ‘panache aplicado… Em suma, o “Elefante Elegante” seria um individuo forte e de porte, mas com classe. Veio-me à memória o actor Marlon Brando, figuração que tentei suavizar na imagem final.
A Susana também fez tentativas;
primeiro levando à letra a caracterização e depois seguindo a mesma lógica.
Criar Ochia Chyornia foi um desastre. Como militar de carreira russo, partiu
dum idoso capitão soviete para se tornar gradualmente, a cada novo esboço, alguém com traços mais britânicos… “Viver e
aprender.”
Por último, o mais divertido de conceber foi talvez o Salvador da Pátria. Entidade espectral, de figurino óbvio sobre a Era donde vem, deu a oportunidade de evocar a imponência de mentor e carisma de …Sean Connery!
Especialmente ajudado por imagens de Zardoz e Highlander, o James Bond original foi assim evocado nesta emblemática figura lusitana; por casualidade, descobri depois que José de Matos-Cruz não só é fã de Connery e da série 007 em BD, como até escreveu um livro sobre o espião!... Portanto, a escolha do modelo não podia ter sido melhor. A Susana também esboçou apersonagem (bem melhor do que eu).